Como funciona a mente de um preconceituoso?
- Pedro Kunzler
- 28 de ago. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 18 de jun. de 2021

O preconceito, tão antigo quanto a própria humanidade, está longe de ser apenas ideias pré concebidas que temos acerca de alguém ou determinado grupo. Ele se relaciona com o conceito de estereótipo e, consequentemente, com a discriminação também. Sentimento quase que inerente ao ser humano, a forma como o preconceito se expressa explica muito sobre nossas raízes emocionais e de como fomos criados.
Em um de seus estudos Freud faz uma análise muito interessante sobre o desenvolvimento da nossa psiquê. Em “Psicologia de Massa e Análise do Ego”, de 1923, o pai da psicanálise reflete através da formação do Ego do sujeito durante a infância e associa ao que poderia ser a formação psicológica de um preconceituoso, de um indivíduo que teria inclusive tendências a pensamentos fascistas e autocráticos.
Pois bem, comecemos primeiro entendendo sobre a formação do sujeito. A teoria psicanalítica dá conta de que nos primeiros anos de vida se forma uma base sólida de emoções (afetos), hábitos, sentimentos, maneira de ver o mundo e as coisas, etc… Para Freud, nasceríamos dotados de uma psique como uma folha em branco e que os primeiros anos de vida, através da socialização primária com os nossos pais ou com quem exerceu funções de paternagem ou maternagem, nos desenvolvemos como sujeitos. A infância é importante nesse contexto para a Psicanálise pois quanto antes uma determinada força influencia na vida do indivíduo, mais ela afetará a formação da personalidade dele.
A família tem um papel importante na formação do indivíduo, pois, além de ser sua socialização primária, é a família que representa a lei no processo de formação da personalidade. Segundo Freud, na primeira infância, no processo do Complexo de Édipo em um desenvolvimento esperado, a criança se identifica com a figura paterna e materna como figuras de autoridade. Essa figura de autoridade se torna o ideal de ego representado e interiorizado pela criança que só depois pode perceber que essa figura de autoridade não corresponde ao seu ideal de ser, podendo então se libertar e, então, tornar-se uma pessoa emancipada, independente.
Figuras Autoritárias e a Formação de um EGO Frágil
No estudo Freud disserta que quando a autoridade é exercida com autoritarismo, com imposição de regras com severidade ao invés de ser uma figura de autoridade sem ser autoritário, ou seja, educando com amor e com assimilação de princípios, a criança tende a formar um Ego mais frágil. Sem chance de se emancipar emocionalmente e se sentir seguro e amado. Impor disciplina por questões moralistas, de forma traumática para a criança, prejudica a formação do ego. A forma correta seria a disciplina que permite que as crianças entendam os motivos de determinada consequência contribuindo para a formação de um ego saudável. Como sempre, o amor acima de tudo.
No que tange o desenvolvimento psíquico na formação da identidade, a autoridade que não é superada se transforma no oposto da autonomia, ou seja, na heteronomia dos sujeitos que permanecem em seu estado de menoridade, termo utilizado na teoria do filósofo Kant para se referir ao estado de dependência de outros.
Por outro lado, a ausência de uma figura de autoridade também pode dificultar a identidade pessoal das pessoas e impulsioná-las a buscar em outras figuras. Ou seja, pais muito autoritários ou pais muito permissivos não contribuem para a formação de pessoas críticas, evidenciando que pessoas com um eu estruturado tiveram uma formação familiar mais democrática e, especialmente, com amor.
O Ego Frágil e a Adesão ao Fascismo
Pessoas que possuem um eu frágil, associado a uma personalidade autoritária, tendem a aderir a figuras de autoridade do sistema coletivo, aderindo às massas.
Uma pesquisa realizada nos EUA pelos psicólogos Daniel Levinson, Else Frenkel-Brunswik e pelo conhecido filósofo Theodor Adorno, intitulada de “Estudos sobre o Preconceito” e “A Personalidade Autoritária”, explanou sobre a mente dos preconceituosos. Segundo as pesquisas, pessoas com personalidades preconceituosas provavelmente foram criadas em um ambiente onde a autoridade com imposição de regras e severa foi utilizada como meio de educação, fazendo com que o sujeito não pudesse se sentir confiante para formar o seu próprio ego.
Segundo os autores, para formar pessoas críticas, que não sejam preconceituosas e nem fascistas é importante uma formação na família que permita o desenvolvimento de um eu que não seja frágil. Pessoas com ego fragilizado tendem a projetar e combater seus medos e inseguranças em outras pessoas.
E você, como lida com o preconceito? Será que a forma como você julga ou avalia o seu entorno não está atrelada a forma como você foi criado? E esse modo de pensar é seu ou só uma forma de reprodução “automática”?
Se questione, se conheça.
Pedro Henrique Kunzler
Comments