Entre algoritmos e bolhas, a erosão do contraditório
- Pedro Kunzler
- 6 de ago.
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Vivemos em uma era em que a informação nos encontra antes mesmo de desejarmos encontrá-la. Por trás dessa aparente abundância, operam algoritmos sofisticados que, ao personalizarem conteúdos, acabam por alimentar bolhas digitais que reforçam nossas crenças mais íntimas — e, muitas vezes, mais inconscientes. O resultado é uma realidade fragmentada, onde diferentes grupos passam a consumir versões distintas do mundo.
Essa lógica não apenas reforça vieses já existentes, mas também enfraquece o espaço do dissenso. A opinião pública torna-se menos permeável ao contraditório, mais impermeável à complexidade e menos disposta a reconsiderar suas certezas. Em vez de diálogo, temos reatividade; em vez de escuta, temos bloqueios emocionais e cognitivos.
O que está em jogo, portanto, é algo mais profundo do que a polarização: é o enfraquecimento do simbólico como lugar de mediação. A partir de um olhar psicanalítico, poderíamos dizer que há um recuo da castração simbólica, uma recusa em reconhecer os limites do próprio saber e a alteridade do outro. O sujeito, ao se cercar de espelhos digitais, busca conforto na repetição, mas se afasta da possibilidade de transformação.
Tal cenário exige de nós não apenas vigilância ética, mas também a coragem de habitar espaços de desconforto. Escutar o que nos contradiz, tolerar a ambiguidade, sustentar perguntas em vez de respostas prontas — eis tarefas urgentes para tempos tão ruidosos quanto frágeis.