O tédio como reencontro
- Pedro Kunzler
- 14 de ago.
- 1 min de leitura

Num domingo chuvoso, quando o tempo desacelera e os ruídos do mundo se aquietam, algo antigo pode emergir: o tédio. Não o tédio impaciente, que busca distrações como quem foge de si mesmo. Mas o tédio sereno, quase melancólico, que convida a estar — e não a escapar.
Vivemos em um tempo que patologiza o vazio. Tudo precisa ter utilidade, velocidade, performance. Até o descanso precisa render algo. Mas o tédio, quando suportado com ternura, é um convite raro ao reencontro. Com aquilo que ficou suspenso, com o que não foi dito, com desejos que deixamos de ouvir.
É nesse espaço aparentemente estéril que a alma pode respirar. É ali que a criatividade, a memória e a intuição reorganizam silenciosamente aquilo que a pressa desorganizou.
Talvez não haja nada a fazer hoje. E isso não é falta. Pode ser presença. A presença de si mesmo, enfim sem pressa de ir embora.



