Maniqueísmo na política e o desafio de enfrentar a complexidade
- Pedro Kunzler
- 9 de jan.
- 2 min de leitura
Atualizado: 19 de abr.

O maniqueísmo na política brasileira é um tema que merece reflexão, especialmente quando analisado pela lente da psicanálise. A polarização que vemos hoje — onde tudo é dividido entre “bem” e “mal”, “nós” contra “eles” — não é apenas um problema social ou político, mas também reflete questões internas do sujeito. Afinal, por que buscamos tanto simplificar a realidade em extremos?
Na psicanálise, isso pode ser explicado por mecanismos psíquicos como a projeção e a cisão. Quando rotulamos o outro como “o mal absoluto”, estamos muitas vezes projetando nele nossas próprias angústias, inseguranças ou aspectos que preferimos não enxergar em nós mesmos. É uma defesa psíquica que alivia a tensão interna, mas que, na prática, só aprofunda o conflito e dificulta o diálogo.
Melanie Klein descreveu a cisão como essa incapacidade de integrar aspectos bons e ruins em uma mesma pessoa ou situação. No cenário político, isso significa idealizar o próprio grupo e demonizar o adversário, criando uma narrativa de pureza contra corrupção, ou de progresso contra atraso, sem espaço para nuances ou contradições.
Já Lacan nos lembra que essa busca por certezas absolutas muitas vezes nos leva a nos agarrar a figuras autoritárias ou discursos que prometem segurança. Isso pode até trazer um conforto momentâneo, mas, no fundo, nos aliena e nos afasta da realidade plural e complexa da vida.
O problema é que essa visão maniqueísta não resolve nada. Pelo contrário, nos faz perder de vista as questões centrais e nos impede de construir soluções conjuntas. Aceitar que o outro pensa diferente e que o mundo não se resume a preto e branco é um exercício difícil, mas essencial, tanto na política quanto na vida.
A psicanálise nos ensina que crescer emocionalmente passa por aceitar as ambivalências — em nós mesmos, nos outros e no mundo. E isso vale para a democracia: o conflito e o desacordo são parte do processo, não algo que precisamos eliminar.
Talvez o maior desafio do nosso tempo seja este: parar de projetar, reconhecer nossas próprias contradições e aprender a dialogar de verdade. Afinal, o Brasil é muito maior que qualquer polarização. Se quisermos avançar, precisamos abandonar o conforto das respostas fáceis e enfrentar a complexidade com maturidade e abertura.
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